sábado, 30 de junho de 2007

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Casa Vazia e Edukators

Sem idéia sobre que filme alugar no final de semana? Bom, não sou das Organizações Tabajara do Casseta e Planeta, mas acho que posso dizer que “seu problema acabou”. Mas, por favor, depois de assisti-los, mande um e-mailzinho pra esse pobre mortal contando o fiasco que foi a indicação, ou a mudança que ela provocou na sua vida. 8 ou 80 ? Vale 44 também.

Casa Vazia é da Coréia do Sul. Edukators é Alemão. Ótima oportunidade pra dar um descanso para os filmes estadunidenses, hein? Vamos pensar um pouco à européia? À asiática?

Casa Vazia. O que te vem à cabeça? Pare de ler no próximo ponto final e pense um pouco. Aí atrás tem um ponto final, hein, pensou mesmo um pouco sobre o título desse filme? O que te veio à cabeça? Quer saber? Eu ia falar um pouco sobre ele, mas decidi agorinha não fazê-lo mais. Assista ao filme. E manda o e-mailzinho...

Edukators. O que te vem à cabeça? Não vai me dizer que você pensou naqueles educadores, estudiosos do tema educação. Nossa, ia ser um filme muito chato, não? Nada disso, os educadores aqui são uns jovens muito revoltados com esse sistema capitalista vigente. Eles fazem umas coisas bem radicais. O filme também provoca uma reflexão sobre a mudança no modo de pensar que a evolução da idade provoca, uma fatalidade.

Sei que o primeiro pode ter provocado mais curiosidade, mas traquinasmente tenho que dizer que o segundo também é excelente. Manda um e-mailzinho, vai...

acpadilha@yahoo.com

sábado, 23 de junho de 2007

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A justiça funciona diferente para os pobres e os ricos no Brasil. Para os ricos é assim: “Eles têm recursos para não ser preso; se preso, para não ser processado; se processado, para não ser condenado; se condenado, para não ir para a cadeia; se for para a cadeia, para sair logo depois graças a algum recurso jurídico”... Entre os Inconfidentes que lutaram pela independência do nosso país durante a Inconfidência Mineira havia membros da elite. Só o pobre Tiradentes foi condenado e exemplarmente morto. Até quando resistirá nossa esperança por mudança?

Rigor com os miseráveis e tolerância com as elites desde o Brasil Colônia
A igualdade perante a lei entre nós nunca passou de retórica, diz historiador
Chico Otavio – O Globo 17 de junho de 2007

No mais sangrento episódio de repressão contra escravos rebeldes no Brasil, o general francês Robert Labatut mandou executar, sem processo, em novembro de 1822, 52 negros aquilombados na Bahia. O episódio é revelador de uma marca que o Brasil carrega desde os tempos da Colônia e do Império: o extremo rigor na punição das frações mais pobres da população e a quase ausência total de representantes das elites no banco dos reús. O general jamais foi punido pelo massacre.
Teria, assim, o sistemático desrespeito às leis no Brasil raízes históricas? Para o historiador José Murilo de Carvalho, a impunidade não foi "inventada ontem". Ele sustenta que a igualdade perante a lei, no país, nunca passou de retórica desde a colonização.
- Em conseqüência, a impunidade, embora generalizada, aplica-se de modo diferenciado. É máxima para o cidadão de primeira classe. Ele tem recursos para não ser preso; se preso, para não ser processado; se processado, para não ser condenado; se condenado, para não ir para a cadeia; se for para a cadeia, para sair logo depois graças a algum recurso jurídico. É média para a massa de cidadãos de segunda classe, que sofre os rigores e benefícios da lei em razão proporcional aos recursos de cada um. É menor para o cidadão de terceira classe, o 'elemento' do jargão policial, sujeito ao arbítrio da polícia e freguês de carteirinha do Código Penal - explicou.
A gênese do Brasil, paradoxalmente, está ligada à punibilidade. Os primeiros colonos foram degredados, uma pena dura, pois significava uma espécie de "morte social" por causa da distância de Portugal e das condições precárias da colônia. José Murilo não acredita, contudo, que o trauma da punição tenha entrado no DNA dos brasileiros.
- Não foram tantos os degredados e o trauma da punição não é causa de impunidade. Ela vem das instituições do Estado, sobretudo da polícia e do Judiciário, das hierarquias sociais, e do conluio entre as primeiras e as segundas.
Os livros de história estão fartos de registros de desrespeito às leis. Embora a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravos, tenha sido decretada pelo governo imperial em 1850, houve notícias de desembarque de escravos até pelo menos 1855, em Pernambuco. Somente 11 anos depois o então ministro da Justiça, José Tomás Nabuco de Araújo, teve condições de declarar extinto o tráfico de escravos no país.
São raros, porém, os registros de punição de pessoas pertencentes às classes mais abastadas. O advogado Luis Francisco Carvalho Filho, ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, em artigo escrito para a revista "Estudos Avançados", da USP, disse que "quem vasculhar os relatos de punição criminal no Brasil não encontrará mais do que um punhado de casos envolvendo a elite de então".
Inconfidentes: Pagou menos quem tinha mais conexões
A Inconfidência Mineira foi o mais famoso episódio de desigualdade social da aplicação das leis: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, foi o único condenado à morte e executado em 1792. José Murilo de Carvalho disse que os membros da elite tinham conexões na colônia e na metrópole desde então.
- Mais conexão, menos punição. Veja-se o julgamento dos inconfidentes mineiros. Tudo não passou de uma farsa cruel. A sentença já tinha sido decidida pela rainha antes do fim do processo. Pagou menos quem tinha mais conexões, caso de Gonzaga, pagou mais quem tinha menos, caso de Tiradentes - disse.
Dois episódios lembrados por Luís Francisco de Carvalho reforçam estas diferenças. Em 1549, ano da fundação de Salvador, um índio acusado de matar um colono foi, por ordem do governador-geral Tomé de Souza, amarrado à boca de um canhão e atirado "pelos ares, desfeito em pedaços". Porém, para dois franceses presos no sul do país, na mesma época, por contrabando de pau-brasil, o futuro seria diferente. Tomé de Souza se justificaria depois: "Não os mandei enforcar porque tenho necessidade de gente que não me custe dinheiro".

sábado, 16 de junho de 2007

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A persistência da memória

Este quadro é provavelmente a mais conhecida de todas as obras do pintor espanhol surrealista Salvador Dali. A flacidez dos relógios dependurados e escorregando mostram uma preocupação humana, com o tempo e a memória. O próprio Dali está presente, na forma da cabeça adormecida que já apareceu em outros quadros. Segundo ele, a idéia do quadro ocorreu e como a paisagem já estava pronta, levou apenas 2 horas para realizá-lo. Quando Gala, sua esposa, voltou do cinema e viu o quadro, previu que quem visse este quadro jamais o esqueceria.

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O poder do agora

Abelardo Barbosa, o Chacrinha, disse que não veio para explicar, mas sim para confundir. Não é esse meu objetivo, embora essa impressão possa irromper após a compararação do título do último texto: “O valor do amanhã”, com o deste: “O poder do agora”. Acho que, na verdade, profundamente, eles se complementam. Enquanto o primeiro trata da perspectiva material, o segundo trata da perspectiva espiritual. Os trechos abaixo foram extraídos do livro escrito por Eckhart Tolle de título idêntico ao desta seção.

A MENTE NÃO É O INDIVÍDUO
Nós NÃO somos nossa mente, somos muito mais que isso, apesar dela estar sempre tentando nos dominar. A maioria dos pensamentos são inúteis, repetitivos e de natureza negativa; acabamos reféns desses pensamentos. Vivemos em uma cultura dominada pela mente, por isso a maior parte da arte moderna, arquitetura, música, literatura é desprovida de beleza, de essência interior. As pessoas que criam isso não conseguem se libertar de suas mentes, não estão em contato com aquele lugar interior onde se origina a verdadeira criatividade e beleza. Pensamentos, emoções, medos e desejos podem até estar presentes, mas não devem nos dominar.

TER – APARÊNCIA
Enquanto houver a identificação com a mente, o sentido do eu interior é dado pelas coisas externas. Extraímos o sentido de quem somos de coisas que não tem nada a ver com o que realmente somos, como o papel na sociedade, as nossas propriedades, a aparência externa, os sucessos, os fracassos, o sistema de crença. Esse eu interior falso, esse ego construído pela mente, sente-se vulnerável, inseguro, está sempre em busca de coisas novas com as quais se identificar para obter a sensação de que ele existe. Mas nada é suficiente para dar uma satisfação duradoura. O medo e a sensação de falta permanecem.

PARAR DE JULGAR - ACEITAR
No momento em que paramos de julgar, no momento em que aceitamos aquilo que é, ficamos livres da mente e abrimos espaço para o amor, para a alegria e para a paz. Em primeiro lugar paramos de nos julgar, depois paramos de julgar o outro. O grande elemento catalisador para mudarmos um relacionamento é a completa aceitação do outro do jeito que ele é, sem querermos julgar ou modificar nada.

CICLOS
Existem ciclos de sucesso e ciclos de fracasso. Não devemos oferecer resistência, mas sim acompanhar o fluxo da vida e, dessa forma, impedir o sofrimento. É a mente que julga o ciclo descendente como ruim. Até doenças podem ser provocadas pela luta contra os ciclos de baixa energia. Se o crescimento nunca tivesse fim, poderia acabar em algo monstruoso e destrutivo. É necessário que as coisas acabem para que coisas novas aconteçam. No mundo das formas todas as pessoas fracassam mais cedo ou mais tarde, e toda conquista acaba em derrota. Todas a formas são impermanentes. As formas não são nossas vidas, pertencem à nossa situação de vida.

ATIVIDADE SEM AÇÃO
Um dos princípios do Taoísmo é a “atividade sem ação”, o que é diferente de inatividade. O verdadeiro “fazer nada” implica uma não resistência interior e um intenso estado de alerta. Caso haja necessidade de ação você responderá com sua presença consciente. A resistência é a fraqueza e o medo disfarçados de força.

AGORA X FUTURO E PRESENTE
A tese do livro é que o AGORA é a chave para a dimensão espiritual, a essência do zen. O passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma promessa de salvação e realização. A mente condicionada como é pelo passado, sempre busca recriar o que conhece e o que está familiarizada; mesmo que seja doloroso, ao menos é familiar. Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer, imaginá-lo pior traz ansiedade, os dois são ilusões. Então não adiantaria pré-ocupar-se, ocupar-se de algo antes do tempo, preocupar-se; o que adianta é dedicar nossa inteira atenção para o que quer que o momento apresente. Não deveríamos nos preocupar tanto com o resultado da ação, desde que déssemos atenção à ação em si, dessa forma o resultado surgiria espontaneamente. Um desapego do resultado da ação. Concentrando-nos no Agora estaríamos no caminho para a iluminação espiritual, da conquista da radiante alegria do Ser e da paz inabalável, sentiríamos em unidade com o SER, algo imensurável e indestrutivo. Cessaria o sofrimento, valorizaríamos mais o silêncio e o espaço vazio.

sábado, 9 de junho de 2007

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O valor do amanhã

“O valor do amanhã” é um livro escrito pelo professor Eduardo Giannetti. Economista, sociólogo e filósofo, o mineiro Giannetti é professor do IBMEC São Paulo e fez uma extensa pesquisa para escrever o livro.

No livro, dentre tantas informações, é narrada uma experiência realizada com crianças nos EUA da seguinte forma: a criança era deixada em uma sala com um doce. Ela era instruída de que poderia comer o doce ou então aguardar alguns minutos até que o adulto retornasse. Se a criança esperasse pela volta do adulto, ela ganharia não um, mas dois doces. Os pesquisadores acompanharam as crianças no decorrer de suas vidas e observaram que as crianças que esperaram e não comiam o doce, ou seja, as que aguardavam um prêmio maior (o que seria equivalente a “juros”), se mostraram as mais bem sucedidas na escola e no trabalho, tiveram menos problemas com drogas e menos problemas familiares.

O livro fala basicamente disso, das trocas intertemporais, ou seja, usufruir antes e pagar depois, ou então pagar antes e usufruir depois. No primeiro caso há um custo: os juros. No segundo caso há um ganho: os juros invertidos, um rendimento. Antecipar custa, retardar rende. No Brasil é evidente que a maioria das pessoas prefere a primeira opção. Não poupamos e, ao contrário, adquirimos bens desenfreadamente , antes mesmo de possuir o dinheiro para comprá-los. Financiamos o carro em 36 prestações, a casa ao longo de 20 anos, e os mais variados tipos de eletro-eletrônicos, desde celulares a televisões e geladeiras.

O resultado é catastrófico. Aqueles que menos teriam condições para pagar pelos bens, são os que mais pagam por eles. O carro sai quase pelo dobro do preço, a casa financiada (ainda que seja com juros baixos pelo SFH, de todo modo são JUROS) sai por, ao menos, uma vez e meia, o preço das geladeiras e fogões acabam saindo muito mais caros do que o valor que poderia ser pago a vista. A maioria se desculpa dizendo que não teriam disciplina e, de outra forma, gastariam o dinheiro. Preferem a obrigação de ter que pagar uma prestação, mesmo sendo cruelmente prejudicados por isso.

Hume dizia: “Não existe atributo da natureza humana que provoque mais erros fatais em nossa conduta do que aquele que nos leva a preferir o que quer que esteja presente, ao que está distante e remoto, e que nos faz desejar os objetos mais de acordo com sua situação do que com seu valor intrínseco”.

O fato é que Educação Financeira deveria ser uma disciplina ensinada nas escolas desde muito cedo. Com uma simples mudança de atitude, um pouco de consciência e instrução, não só as pessoas seriam beneficiadas, mas também todo o país, que teria dinheiro poupado para investir e crescer. O planejamento financeiro com metas claras de onde se quer chegar e o controle do orçamento para saber aonde o dinheiro está indo parar são boas práticas que pouquíssimos brasileiros têm.

A humanidade ao longo de sua história passou de caçadora-coletora para pastora-agricultora, ou seja, da imediatidade para a espera. Plantar, regar, podar, adubar, colher é um processo que leva tempo, mas que produz resultados alentadores. A própria palavra próspero vem do latim e pode ser decomposta em pro: “a favor de” e spero: “esperar”. Talvez já seja hora de pensarmos um pouco sobre isso e reduzir nosso ímpeto consumista, de pensarmos um pouco sobre o valor do amanhã.

sábado, 2 de junho de 2007

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O jesuíta Baltasar Gracián foi um dos mais importantes escritores espanhóis do século XVI. Apreciado por Nietzsche e Schopenhauer, inventou aforismos que resistem há mais de 400 anos, como os abaixo transcritos:

Saber esperar

É prova de um grande coração quando se têm grandes reservas de paciência. Nunca se afobe ou nunca dê vazão às emoções. Domine-se e dominará os outros. Vagueie pelas vastas dimensões do tempo rumo ao centro da oportunidade. A hesitação sábia tempera os acertos e amadurece os segredos. A muleta do tempo é mais poderosa que a clava de aço de Hércules. O próprio Deus não castiga com as mãos de ferro, mas com pés de chumbo. Um maravilhoso ditado: “O tempo e eu enfrentamos quaisquer outros dois”. A sorte dá recompensas maiores àqueles que esperam.

Saber organizar a vida com bom senso

Não confusamente, ao saber dos eventos, mas com previsão e bom senso. A vida sem descanso é penosa assim como um longo dia de viagem sem pouso. O que torna a vida agradável é a diversidade do conhecimento. Para uma vida bela, gaste a primeira etapa conversando com os mortos: nascemos para saber e conhecer a nós mesmos, e os livros nos transformam fielmente em pessoas. Passe a segunda etapa com os vivos: veja e registre tudo o que há de bom no mundo. Nem todas as coisas se acham na mesma terra. Ao distribuir o dote, o Pai universal às vezes deu riqueza à filha mais feia. A terceira etapa da vida pertence inteiramente a você: filosofar é o prazer mais elevado de todos.

Conhecer os dias aziagos

Porque eles existem. Nada vai dar certo. Mesmo que você mude de jogo, a má sorte continuará. Experimente sua sorte e retire-se caso o dia se revelar desfavorável. Mesmo o discernimento tem seus momentos: ninguém pode saber tudo o tempo todo. É preciso boa sorte para pensar bem, assim como para escrever uma boa carta. Toda perfeição depende de fase feliz. Nem a beleza está sempre em forma. Mesmo a discrição se desmente a si própria, ou cedendo ou excedendo. Tudo para dar certo tem seu momento. Certos dias tudo corre mal; noutros bem, e com menos esforço. Tudo se realiza com facilidade, a inteligência está afiada, o temperamento bem disposto, e tudo sob os auspícios da estrela da sorte. Tire o máximo proveito desses dias, e não desperdice um instante deles. Mas não é sensato considerar o dia definitivamente mau ou bom por causa de um golpe de azar ou de sorte.
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