sábado, 26 de maio de 2007

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A metamorfose

“A metamorfose” é um conto escrito em 1912 pelo tcheco Franz Kafka, que narra a estória de um funcionário que após um período da vida dedicada apenas ao trabalho rotineiro e burocrático, vai se desumanizando de tal forma que se metamorfoseia em um inseto-não-identificado.

“Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.”

E talvez o pior de tudo, é que o esforço do trabalho para pagar as dívidas do velho pai, e sustentar toda a família, composta ainda pela mãe e a jovem irmã, parece não ter sido reconhecido. A família, ao perceber que daquele jeito ele não teria mais serventia, fica atormentada, passa a rejeitá-lo e começa a pensar em como se livrar daquele bicho. Felizmente ele morre antes e, no mesmo dia, sem se atentarem pela memória de Gregório, pegam um trem e vão passear juntos, fazendo planos para o futuro, com novos sonhos e esperançosas intenções. Após a morte do sustento da casa, a família também se adapta e sofre uma metamorfose.

O duro é constatar que se nós também acordássemos em forma de inseto, o mundo seguiria seu curso. Serenamente. Ou será que já não vivemos como “insetos” e o mundo já vai seguindo seu curso, serenamente?

sábado, 19 de maio de 2007

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Las Meninas – “Donde está el cuadro?”

A pedido do "Illustrated London News", em 1985, um júri formado pelos maiores conhecedores de arte do mundo escolheu as dez maiores obras de arte já realizadas pelo homem. A que ficou em primeiro lugar por unanimidade foi a pintura “Las Meninas” do espanhol Diego Velázques. A obra fica exposta no Museu do Prado na capital da Espanha, Madri.

As Meninas foi pintado em 1656. Reparem que o próprio pintor está retratado no quadro. Atrás dele é possível ver um pequeno espelho onde estão refletidos o rei e a rainha da Espanha. É como se aonde estamos nós, do lado de cá olhando a pintura, estivessem, na verdade, o rei e a rainha, olhando para Velazques que os pinta enquanto está ao lado das “meninas”. Portanto o quadro que ele está pintando (na lateral esquerda podemos ver só uma parte do lado de trás do quadro) tem como tema o rei e a rainha.

Mas essa é a minha interpretação, ao longo dos séculos diversas outras foram dadas, pelo prisma matemático (Alpatoff), moral (Emmens), político (Salas, Brown), astrológico (Campo e Francés), e o próprio artístico. Teófilo Gautier se perguntava: “Donde está el cuadro?”
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O Corte

Do francês Costa-Gravas o filme “O corte” (corte de pessoal, no sentido de demitir) retrata bem a cilada em que se encontram os franceses. Avesso ao capitalismo avassalador, à globalização, ao trabalho excessivo, em constante “guerra fria” com ingleses e estadunidenses, o povo francês está em crise.

Para ser competitiva globalmente, as empresas hoje têm que ter alta produtividade, extraindo o máximo de cada empregado, para que o lucro também seja maximizado. Mas como fica a vida pessoal dos trabalhadores frente a isso? É possível manter bons relacionamentos com colegas de trabalho, com amigos e com a própria família passando pelo menos cinco dos sete dias da semana sob pressão e intenso stress?

Após a reestruturação de uma empresa francesa o protagonista do filme, que possui uma ótima posição na empresa, que lhe permite ter uma casa espaçosa e confortável, dois carros, e proporcionar um ótimo padrão de vida à sua esposa e seus dois filhos, é demitido.

Depois de dois anos tentando obter um emprego sem sucesso, com os problemas se multiplicando, a opção encontrada por ele é no mínimo inusitada: matar todos os candidatos à sua antiga vaga na empresa em que trabalhava e, por fim, a do próprio novo ocupante dela, para ser novamente o melhor candidato para a posição e conseguir de volta o emprego. Ele pensou bem e viu que não adiantaria eliminar o dono da empresa, nem os acionistas, nem os políticos, mas sim, para obter um resultado prático, seus próprios pares.

Juro que o resumo acima não tira a graça de se assistir ao filme, e também que ele não faz apologia ao crime! , mas sim denuncia cruamente e alegoricamente o estágio para o qual, paulatinamente, estamos sendo levados. O personagem principal, representado por José Garcia, faz do filme quase uma comédia.
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Neste espaço disponibilizarei alguns textos que escrevi ao longo do tempo. Em breve colocarei outros.

Após clicar no link, para baixar o arquivo, entre em:
“Download file” conforme a figura acima (às vezes demora um pouquinho para aparecer a opção).

Textos da minha viagem pela Europa – Cem Dias Sem Rumo
Textos da minha viagem pela Bolívia e Peru
Textos da minha viagem pela Argentina e Uruguai

quarta-feira, 16 de maio de 2007


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Em 2010 você vai votar para presidente no candidato do PSDB, o paulistano José Serra, ou no virtual candidato do PMDB, o mineiro Aécio Neves, apoiado pelo presidente Lula? Não se esqueça que no citado ano se celebrará não só os 50 anos de construção de Brasília, sonhada pelo mineiro JK, como também os 100 anos de nascimento de ninguém menos que Tancredo Neves...
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Paradigmas

Paradigma é modelo, padrão de referência. Temos que tomar muito cuidado com nossos paradigmas mentais, eles nos guiam constantemente, direcionam nossas ações, sem sequer percebermos. De maneira geral eles não são ruins, pois eles permitem que possamos tomar decisões mais ágeis, sem ter que ficar refletindo sobre tudo. Mas será que alguns dos paradigmas implantados em nossa mente não estão errados? Isso pode ser danoso. Os paradigmas se formam desde nossa infância: acontecimentos presenciados, o ensinamento dos pais, nossa religião, a cultura da região onde nascemos... Agora, imagine uma pessoa tentando se locomover em São Paulo com um mapa do Rio de Janeiro, sem perceber. Fatalmente essa pessoa nunca chegará ao destino, e ficará culpando tudo e todos por isso, quando no fundo bastaria mudar o paradigma, utilizar o mapa correto. Com o mapa errado não adianta o empenho, nem a atitude positiva. Temos que tentar manter nossa mente aberta ao aprendizado. Muitas vezes pode ser necessário rever conceitos que foram armazenados de forma errada, os tais pré-conceitos, mudar os paradigmas. Tentar modificar atitudes e comportamentos exteriores não adianta a longo prazo se deixarmos de examinar os paradigmas básicos que os estão direcionando. Uma mudança de paradigma nos leva de uma visão de mundo para outra. E essas mudanças provocam transformações poderosas. Pense bem, você não está tentando, como um louco, obter resultados diferentes e melhores, porém agindo sempre da mesma forma, sem mudar a maneira de agir, ancorado em velhos e incorretos modelos, está? Repense seus paradigmas! Use o mapa certo.

sábado, 12 de maio de 2007

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Efeito Borboleta e Corra Lola, corra

O “Efeito Borboleta” é um termo usado para explicar a teoria segundo a qual o bater de asas de uma simples borboleta em determinado ponto da Terra poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

“Efeito Borboleta” também é o nome de um belo filme de ficção fantástica inspirado pelo fenômeno acima. O protagonista do filme possui poderes que lhe permite voltar no tempo e fazer uma pequena modificação em um acontecimento específico envolvendo ele próprio, seus amigos e algumas outras pessoas. Acontece que essa pequena alteração muda totalmente o curso da vida deles todos. Para alguns as modificações são positivas, já para outros... Isso acaba motivando ele a voltar novamente para modificar o acontecimento mais uma vez, para tentar evitar as más conseqüências. Isso o obriga a voltar umas três vezes, se não me engano, pois sempre alguém acaba se dando mal com a alteração.

Bem, assistam ao filme, talvez como eu, vocês também chegarão à conclusão que não adianta ficar lamentando sobre acontecimentos do passado achando que teria sido melhor se... Melhor para quem? Alguém arcaria com o ônus das conseqüências ruins? Quem sabe? Pode ser que o melhor mesmo seja olhar para frente e tomar cada decisão tendo em mente que, independentemente da escolha, sempre haverá múltiplas alternativas, múltiplas conseqüências, para múltiplas pessoas. Escolher algo sempre implicará em abdicar de algo.

“Efeito Borboleta”, assista e, de quebra, também alugue o filme alemão “Corra Lola, corra” com a mesma temática e igualmente excelente.
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"Nem tanto ao céu, nem tanto à terra" diz o velho ditado. Mas é sempre bom ter um contraponto. Ouvir o que o outro lado pensa. Embora o texto abaixo, publicado em uma revista semanal há mais de cinco anos atrás, apresente alguns pontos discutíveis, creio que ele possa nos despertar para uma visão crítica sobre essa imprensa que invade nossas vidas a cada dia, irradiando um turbilhão de informações pelas folhas dos jornais e revistas, mais recentemente pelas telas de computador via internet, e, talvez através do meio mais vilão de todos: a televisão.

O texto deixa subentendido porque notícias ruins atraem tanto a nossa atenção. Mostra que temos uma tendência natural ao pessimismo, justificado pelos diversos desastres coletivos que nossa espécie passou ao longo da história e que deixaram marcas no cérebro humano, além de registros tais como o de que tudo que sobe, cai, de que toda bonança é seguida de tempestade e, ainda, que não existe ninguém ficando mais novo a medida que o tempo passa.

Não vai ser a tônica, mas de vez em quando não poderei deixar de colocar aqui esses l o n g o s (e para alguns até chatos) textos.

O que faz as pessoas acharem que tudo vai dar errado, mesmo que as coisas estejam melhorando

Com exceção dos raros países em guerra e dos bolsões de miséria da África, a vida é hoje mais segura, pacífica, saudável e próspera para a maioria das pessoas do que em qualquer outro momento anterior da história do planeta. Um a um os profetas do caos, da escassez e do desastre global foram sendo desmentidos pela realidade. A comida não acabou como esperava o inglês Thomas Robert Malthus. Usando a lógica em moda do séc XVIII, Malthus previu que, como a população cresce geometricamente (1, 2, 4, 8, 16...) e a produção de grãos aritmeticamente (1, 2, 3, 4...) a fome mundial seria inevitável. Nunca se produziu tanta comida no mundo como nos anos que correm. Durante este século, previram-se o fim das reservas de petróleo, a escassez de metais como ferro, alumínio e cobre, a morte dos oceanos, o envenenamento irreversível da atmosfera e a eclosão de uma guerra nuclear. Nada disso aconteceu, e, no entanto, a derrota dos pregadores do apocalipse não provocou redução sensível do pessimismo. Mesmo sem catástrofes, o catastrofismo continuou firme.

“Para um bom pessimista, contra argumentos nada podem os fatos”, diz o filósofo alemão Alphons Silbermann, autor de um livro-chave para entender esse sentimento derrotista que parece impregnado nos genes da raça humana (Os profetas do fim do mundo – o negócio do medo, Editora Bastei-Luebbe). O renomado historiador inglês Asa Briggs, da Universidade de Oxford, outro que está interessado no assunto, acaba de compilar uma série de artigos do livro Como os séculos terminam 1400 – 2000 (Editora da Universidade de Yale), que registra um grau de pessimismo ainda mais acentuado nas viradas de século e milênio. “Uma sensação de perda mais do que de esperança no novo marcou essas épocas”.

Há uma força externa que se une ao pessimismo natural reforçando-o tremendamente. Trata-se do uso deliberado ou não, que muita gente faz do pessimismo. Governantes, militantes ecológicos, políticos, grupos de rock e, com freqüência irritante, a imprensa exploram esse filão psicológico. A MTV americana perguntou a milhares de seus espectadores entre 16 e 29 anos que palavra definiria sua geração. A juventude dourada do país mais poderoso e rico do mundo respondeu: “Raivosa”. A segunda resposta mais freqüente foi: “Esgotada”. “As letras das músicas pop falam irracionalmente em destruição instantânea e violenta do mundo, como se ainda vivêssemos sob o impacto da bomba atômica”, escreveu Michael Medved, crítico de cinema e autor do livro Saving Childhood: How to protect Your Children from the National Assault on Innocence (Salvando a Infância: Como Proteger Seus Filhos do Assalto Nacional à Inocência). O livro é uma bem articulada defesa da idéia de que a saudável insatisfação natural dos adolescentes acaba desfigurada em pessimismo e negativismo por programas de televisão, por algumas músicas de rock e pelo cinema.

Cansado de ler sobre o fim do mundo nas páginas de seus jornais e revistas preferidos, o advogado californiano Aaron Cohl passou a recortar tudo que lhe parecia exagerado e distorcido. A colagem de Cohl virou um livro devastador para o jornalismo moderno. Como o Pessimismo, a Paranóia e uma Imprensa Descontrolada estão nos Levando ao Desastre (Editora St Martin’s). As armas investigativas de Cohl são apenas aquelas que todo redator editor deveriam acionar antes de escrever uma reportagem: bom senso, ceticismo inteligente e coerência. “A imprensa – e não as corporações, os médicos ou os governos – é a principal fonte de informação do cidadão comum sobre economia, saúde e política”, diz o advogado. “Parece vago colocar a culpa na imprensa, mas boa parte do pessimismo reinante hoje é gotejada em nossas veias pacientemente pelos jornais, pelas revistas e pela televisão”, sustenta Cohl. Algumas das manchetes que chamaram a atenção do advogado: “Hambúrguer mata crianças!”, “O céu está caindo!”, “Sitiados por assassinos, estupradores e ladrões!”, “Desastre a caminho”. “O que mais assusta é que essas manchetes foram estampadas em publicações nacionalmente respeitadas, como os jornais The New Yorker Times e Chicago Tribune e as revistas Newsweek e Time”, afirma Cohl.

Com ligeiras adaptações, o diagnóstico de Aaron Coh sobre a situação nos Estados Unidos pode ser entendido para muitos outros países – para o Brasil com certeza. As pesquisas de opinião mostram que um dos maiores medos dos brasileiros heterossexuais solteiros do sexo masculino é adquirir Aids numa relação sexual ocasional. Segundo pesquisa feita no ano passado pela agência de publicidade gaúcha Como&Porque, 74% dos 1 200 entrevistados têm mais medo da doença do que ser assaltado, perder o emprego ou se acidentar. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as chances de uma pessoa qualquer contrair Aids em algum país do mundo é 1 em 18 000. As chances de morrer atropelado em São Paulo são muitíssimas mais altas. Pela lógica as pessoas deviam temer muito mais a morte no trânsito do que a Aids. Voltemos ao advogado Cohl e à culpa da imprensa, “Como a morte de um jovem do sexo masculino pela Aids é um evento mais raro do que um atropelamento fatal, a imprensa vai dar sempre mais destaque à doença”, argumenta Cohl. “Isso cria nos jovens um medo infundado maior da Aids do que do trânsito”.

A mesma coisa ocorre com relação ao medo de voar. Como são mais raros os acidentes aéreos, eles sempre vão ter mais destaque na imprensa do que os de automóvel. A chance de morrer num acidente aéreo é de 0,2 em 1 milhão, menor, portanto, do que a de ser atingido por um raio (1,1 em 1 milhão) – e incomparavelmente menor do que as chances de morrer em um acidente de trânsito nas estradas brasileiras, que são de 2,7 em 100 (quase uma condenação). “O paradoxo é interessante”, diz Cohl. “Como a imprensa dá mais destaque aos eventos raros, ele acaba gerando medos inversamente proporcionais aos perigos reais”. No Brasil, a imprensa falou mais nos últimos tempos sobre uma doença distante que enlouquece e mata vacas na Inglaterra, a encefalopatia espongiforme bovina, cujo efeito nos seres humanos ainda é discutível, do que do mal de Chagas, presente em quase todo o território nacional.

O que o paradoxo de Cohl tem a ver com o pessimismo? O autor responde: “O ser humano parece ser o único animal capaz de procurar motivos para sofrer”. A revista americana U.S. News & World Report dedicou uma reportagem extensa em seu primeiro número de 1998 a mostrar que mais difícil do que convencer os editores a publicar fatos alvissareiros é fazer os leitores acreditarem em notícia boa. “Cite um problema social qualquer, do desemprego à criminalidade, do câncer à Aids, da mortalidade infantil à educação, e o país terá batido um Record positivo no ano que passou”, escreveu a revista. “Ainda assim, isso não é suficiente para que a maioria das pessoas passe a olhar o futuro com mais tranqüilidade e esperança”. Nesse ponto surge uma questão ainda mais intrigante. “A psicologia humana é de uma complexidade estupenda”, comenta o psicólogo americano David Meyers. “Se as condições materiais de vida melhoram ao mesmo tempo para todo um país, uma cidade ou classe social, elas raramente são percebidas como tais. Egoisticamente tendemos a entender que melhoramos de vida quando deixamos vizinhos e colegas a comer poeira”.

Pura verdade – em qualquer país. A maioria dos brasileiros de classe média desfruta hoje de um conforto material que, há menos de trinta anos era acessível apenas aos muito ricos. Ter carro e casa própria, poder viajar ao exterior, passar férias na praia, comer em restaurantes são confortos acessíveis, proporcionalmente, a mais brasileiros que em qualquer outra época da nossa História. No entanto, o inconsciente coletivo nacional, refletido nas pesquisas de opinião, minimiza e até anula esse progresso. A classe média brasileira sente-se mais espremida do que nunca. Tudo parece estar piorando.

Está-se a um passo da universalização do ensino básico no Brasil, um sonho que para gerações de brasileiros pareceu mais inalcançável do que viajar até a Lua. No começo da década de 60, apenas 54 em cada 100 brasileiros sabiam ler e escrever. Hoje, 85 brasileiros em cada centena lêem e escrevem. As grandes cidades pararam de inchar, a população passou a crescer em ritmos compatíveis com a modernidade, a taxa de mortalidade infantil caiu de 117 crianças mortas em cada 1000 nascidas vivas, nos anos 60, para 42 mortas no ano passado. A expectativa de vida no Brasil subiu para 67,6 anos, um ganho de 2,5 anos em um prazo de apenas cinco. E, no entanto, os bispos brasileiros acabam de divulgar o documento da campanha da fraternidade de 1998, no qual escrevem o seguinte; “Como é possível, nesse contexto crescente de miséria, insegurança e instabilidade, ausência de pai ou mãe, garantir aos filhos e às filhas as bases de uma personalidade equilibrada e segura, de uma educação adequada aos horizontes de uma vida digna, participativa e de esperança?” Ora, ora se até os bispos estão mergulhados no pessimismo, como esperar que as outras pessoas tenham pensamentos positivos?

O pessimismo não está sujeito a limites no espaço nem no tempo. Sempre existiu, e em qualquer lugar. Convive com a humanidade, como um animal doméstico, desde os primórdios da História. O Livro de Jó, do Velho Testamento, é considerado a primeira obra pessimista de que se tem notícia. Todas as culturas, dos celtas aos ianomâmis, produziram grandes pessimistas. Hamlet de Shakespeare, é um mergulho na desesperança. O escritor inglês Voltaire (1694-1778) e o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) são negativistas históricos. Para Shopenhauer, a primeira e maior infelicidade do ser humano é ter nascido, porque dessa decorrerão todas as outras desgraças. Sigmund Freud foi um pessimista trágico. O romancista americano Mark Twain (1835-1910), autor do impagável Huckleberry Finn, escreveu em sua biografia: “Só os tolos não são pessimistas”. Com tanto empuxo histórico é até um milagre que algumas pessoas consigam ainda ser otimistas.

“Instinto de colméia” – o demógrafo francês Alfred Sauvy, famoso por ter sido o criador da expressão “terceiro mundo”, procurou entender as razões desse paradoxo que parece ser tão resistente na opinião pública de qualquer país. Sauvy descobriu que, por mais paradoxal que possa parecer, os grupos sociais mais favorecidos por mudanças costumam ser aqueles que se mostram mais insatisfeitos. Segundo Sauvy, coletivamente as pessoas tendem a expressar uma insatisfação psicológica qualquer – com razão ou sem ela. Uma nação, classe social ou família que se livre de um problema maior vai logo engrandecer os problemas menores. Essa insatisfação seria algo tão forte na espécie quanto o famoso “instinto de colméia”, que, segundo o antropólogo francês Lévi-Strauss, é a razão fundamental pela qual a humanidade tende a se empacotar em grandes metrópoles. Tanto Sauvy quanto o psicólogo Myers flagraram um divórcio entre a realidade e a percepção da realidade. Esta parece ser uma lei natural. Para o notório pesquisador inglês Steven Pinker autor do livro Como Funciona a Mente, (Editora W.W. Norton), que está gerando polêmicas acesas de ambos os lados do Atlântico, é natural que as pessoas sejam sombrias com relação ao futuro. “Desde que a mente humana passou a registrar os fatos, ela aprendeu que tudo que sobe, cai, toda bonança é seguida de tempestade e não existe ninguém ficando mais novo a medida que o tempo passa”. Na visão de Pinker e outros biólogos da mente, o pessimismo seria fruto principalmente da insatisfação com a inevitável decadência do corpo na luta contra o tempo. Pinker sustenta que a mente humana desenvolveu ao longo da jornada evolutiva áreas específicas para certas fobias e predisposições – entre elas o medo de insetos, de cobras e a sensação de desastre iminente. Pinker diz que sempre se encontrará alguém disposto a acreditar em alguma catástrofe global – não importa qual a base real. “O processo evolutivo da espécie humana foi pontuado por desastres coletivos”, sustenta ele. “Por isso nossa mente está sempre alerta para esses tipos de previsões.”

quarta-feira, 9 de maio de 2007

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O Jornal Nacional talvez seja o programa da televisão brasileira com maior audiência. O programa é exibido estrategicamente entre duas novelas, antes da tradicional “novela das oito” (agora das nove), novela esta que é o principal lazer de milhões de brasileiros. Cada minuto de seus intervalos, comercializados para que sejam mostradas propagandas dos mais diversos produtos, são os mais caros da televisão. Segundo William Bonner, âncora e editor chefe do jornal, e sua equipe, o programa é formatado para o brasileiro com o estereótipo do Homer Simpson, personagem de um desenho americano, ou seja: preguiçoso, burro, que passa o tempo no sofá comendo rosquinhas e bebendo cerveja.
Vale a pena perder tempo assistindo a esse jornal?

DE BONNER PARA HOMER
By Por Laurindo Lalo Leal Filho*
Carta Capital -n 371 de 7 de dezembro de 2005

Perfil do Homer do desenho "Os Simpsons": Ele é preguiçoso, burro e passa o tempo no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja.

"O editor-chefe considera o obtuso pai dos Simpsons como o espectador padrão do Jornal Nacional "

Perplexidade no ar. Um grupo de professores da USP está reunido em torno da mesa onde o apresentador de tevê William Bonner realiza a reunião de pauta matutina do Jornal Nacional, na quarta-feira, 23 de novembro.
Alguns custam a acreditar no que vêem e ouvem. A escolha dos principais assuntos a serem transmitidos para milhões de pessoas em todo o Brasil, dali a algumas horas, é feita superficialmente, quase sem discussão.
Os professores estão lá a convite da Rede Globo para conhecer um pouco do funcionamento do Jornal Nacional e algumas das instalações da empresa no Rio de Janeiro. São nove, de diferentes faculdades e foram convidados por terem dado palestras num curso de telejornalismo promovido pela emissora juntamente com a Escola de Comunicações e Artes da USP. Chegaram ao Rio no meio da manhã e do Santos Dumont uma van os levou ao Jardim Botânico.
A conversa com o apresentador, que é também editor-chefe do jornal, começa um pouco antes da reunião de pauta, ainda de pé numa ante-sala bem suprida de doces, salgados, sucos e café. E sua primeira informação viria a se tornar referência para todas as conversas seguintes. Depois de um simpático “bom-dia”, Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento.
A explicação inicial seria mais do que necessária. Daí para a frente o nome mais citado pelo editor-chefe do Jornal Nacional é o do senhor Simpson. “Essa o Homer não vai entender”, diz Bonner, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia.
Pauta. Na reunião matinal, é Bonner quem decide o que vai ou não para o ar Mal-estar entre alguns professores. Dada a linha condutora dos trabalhos – atender ao Homer –, passa-se à reunião para discutir a pauta do dia. Na cabeceira, o editor-chefe; nas laterais, alguns jornalistas responsáveis por determinadas editorias e pela produção do jornal; e na tela instalada numa das paredes, imagens das redações de Nova York, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, com os seus representantes. Outras cidades também suprem o JN de notícias (Pequim, Porto Alegre, Roma), mas elas não entram nessa conversa eletrônica. E, num círculo maior, ainda ao redor da mesa, os professores convidados. É a teleconferência diária, acompanhada de perto pelos visitantes.
Todos recebem, por escrito, uma breve descrição dos temas oferecidos pelas “praças” (cidades onde se produzem reportagens para o jornal) que são analisados pelo editor-chefe. Esse resumo é transmitido logo cedo para o Rio e depois, na reunião, cada editor tenta explicar e defender as ofertas, mas eles não vão muito além do que está no papel. Ninguém contraria o chefe.
A primeira reportagem oferecida pela “praça” de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da “oferta” jornalística informa que a empresa venezuelana, “que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível” para serem “vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano”. Uma notícia de impacto social e político.
O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.
Na seqüência, entre uma imitação do presidente Lula e da fala de um argentino, passa a defender com grande empolgação uma matéria oferecida pela “praça” de Belo Horizonte. Em Contagem, um juiz estava determinando a soltura de presos por falta de condições carcerárias. A argumentação do editor-chefe é sobre o perigo de criminosos voltarem às ruas. “Esse juiz é um louco”, chega a dizer, indignado. Nenhuma palavra sobre os motivos que levaram o magistrado a tomar essa medida e, muito menos, sobre a situação dos presídios no Brasil. A defesa da matéria é em cima do medo, sentimento que se espalha pelo País e rende preciosos pontos de audiência.
Notícia. A decisão do juiz Livingsthon Machado, de soltar presos, é considerada coisa de “louco” Sobre a greve dos peritos do INSS, que completava um mês – matéria oferecida por São Paulo –, o comentário gira em torno dos prejuízos causados ao órgão. “Quantos segurados já poderiam ter voltado ao trabalho e, sem perícia, continuam onerando o INSS”, ouve-se. E sobre os grevistas? Nada.
De Brasília é oferecida uma reportagem sobre “a importância do superávit fiscal para reduzir a dívida pública”. Um dos visitantes, o professor Gilson Schwartz, observou como a argumentação da proponente obedecia aos cânones econômicos ortodoxos e ressaltou a falta de visões alternativas no noticiário global.
Encerrada a reunião segue-se um tour pelas áreas técnica e jornalística, com a inevitável parada em torno da bancada onde o editor-chefe senta-se diariamente ao lado da esposa para falar ao Brasil. A visita inclui a passagem diante da tela do computador em que os índices de audiência chegam em tempo real. Líder eterna, a Globo pela manhã é assediada pelo Chaves mexicano, transmitido pelo SBT. Pelo menos é o que dizem os números do Ibope.
E no almoço, antes da sobremesa, chega o espelho do Jornal Nacional daquela noite (no jargão, espelho é a previsão das reportagens a serem transmitidas, relacionadas pela ordem de entrada e com a respectiva duração). Nenhuma grande novidade. A matéria dos presos libertados pelo juiz de Contagem abriria o jornal. E o óleo barato do Chávez venezuelano foi para o limbo.
Diante de saborosas tortas e antes de seguirem para o Projac – o centro de produções de novelas, seriados e programas de auditório da Globo em Jacarepaguá – os professores continuam ouvindo inúmeras referências ao Homer. A mesa é comprida e em torno dela notam-se alguns olhares constrangidos.
* Sociólogo e jornalista, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP

sábado, 5 de maio de 2007

[1]

Depois de estudar bastante o budismo, o filósofo alemão Schopenhauer (1788 – 1860), concluiu que o ser humano estaria fadado ao sofrimento. O sofrimento é a luta entre a vontade e a meta. Segundo ele, sempre há no nosso inconsciente uma fila de desejos a serem satisfeitos. Sofremos longamente até que um desejo seja saciado, então há um curto período de felicidade e, posteriormente, a pessoa é tomada pelo tédio. Nesse ponto, um outro desejo sai da fila, e inicia-se novamente um período de sofrimento até que o novo desejo seja satisfeito. E assim, sucessivamente, pois a fila seria infindável.
Como sofrer menos? Com o desapego de coisas materiais, das pessoas que amamos, da nossa própria vida? Desejando apenas o necessário? Fica a pergunta.
[0]

Meus dois avôs passaram dos 80 anos de vida. Eu tenho em torno de 30. Portanto, salvo algum incidente, viverei mais uns 50 anos, tenho quase certeza disso. Não tenho a intenção de fazer grandes realizações durante essa minha breve passagem pelo planeta, mas se conseguisse em ocasiões eventuais despertar para pensamentos que pudessem melhorar a qualidade do modo de viver de alguns que me rodeiam, e indiretamente de outros, consideraria essa sim a minha grande realização. Acredito nessa multiplicação inter-humana de sentimentos e pensamentos que levam a ações e atitudes, ainda que muitas vezes isso tudo aconteça inconscientemente, sem que as pessoas tenham plena consciência de que isso ocorre.

Assim, este mineiro, neste Rio de Janeiro, porém em Maio, declara aberto este espaço para o registro de idéias em forma de palavras escritas, em forma de imagens, esquemas... ou ao menos um “redirecionador” para idéias que estejam em outros formatos (filmes, músicas, livros...), idéias que nos façam refletir sobre essa nossa odisséia pela Terra.

Do grande Gandhi:

“Devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo”

E de um poeta ao ser perguntado sobre qual era o sentido da vida:

“O sentido da vida é buscar um sentido para a vida”
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