domingo, 19 de outubro de 2008

[57] Mário Quintana

Só para terem uma idéia de quanto o mundo anda conectado hoje em dia reparem nisso: um dia assisti a uma entrevista na televisão, no canal TV Educativa com um filósofo. Ele me impressionou tanto que anotei seu nome e pensei comigo mesmo que algum dia ainda leria algo dele. Pois que, muito tempo depois, me deparei com um livro desse autor em uma livraria. Gostei ainda mais, o que fez procurar algo na internet; no Youtube encontrei uma entrevista dele no programa do Jô. Nessa entrevista ele citou o mote deste texto: Mário Quintana. Pois que na mesma semana no teatro do Centro Cultural da Justiça Federal no Rio tinha uma peça que só ia ser apresentada por um final de semana relatando toda a obra deste grande poeta. E cá estou eu neste blog transmitindo, após mais algumas pesquisas na internet, parte da obra do poeta. Ufa, quase fico sem respiração: televisão, livro, internet, teatro...

Mário Quintana nasceu (1906) em Alegrete no Paraná e viveu muito tempo em Porto Alegre. Morreu em 1994. Dias após sua morte uma sobrinha encontrou em uma de suas gavetas uma sugestão de Epitáfio: “Eu não estou aqui”.

A prefeitura de Alegrete após aprovar uma homenagem a ele que ficaria na Praça Central pediu que escolhesse um dos poemas para ser gravado em bronze. Quintana, prevenido, com medo de fazer uma escolha errada, pediu que escrevessem: “Um engano em bronze, um engano eterno".

Morreu solteiro porém estava sempre cercado de mulheres. Tinha amizade com Bruna Lombardi e Cecília Meireles. Era apaixonado pela diva de cinema Greta Garbo. Quando perguntavam porque nunca se casara, ele respondia: "Preferi deixar dezenas de mulheres esperançosas do que uma só desiludida".

Bem seguem-se mais três frases de Mário Quintana (difícil de escolher, viu...) e ainda uma historinha e três poemas.

“O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.”

“A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

“O segredo não é correr atrás das borboletas...É cuidar do jardim para que elas venham até você!”


Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho
Eles passarão
Eu passarinho! (1978)

O peixinho

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no "17"! - o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando o peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial... Ora , um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho: "Não , não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família . E viva eu cá na terra sempre triste!..." Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho nágua. E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado...

O passageiro clandestino

No porta-malas do meu automóvel
levo o anjo escondido...
Quando chegamos a um descampado,
ele sai lá de dentro, distende as asas, belo como a Vitória de Samotrácia...
e eu, então, nos seus ombros, dou uma longa volta, pelos céus da cidade,
porém temos logo de regressar a nossos antros de cimento
— antes que a serenata dos sapos, mais uma vez,
venha cantar, à beira dos banhados,
à nossa modesta aventura de um domingo burguês

O anjo Malaquias

O Ogre rilhava os dentes aguda e lambia os beiços grossos, com esse exagerado ar de ferocidade que os monstros gostam de aparentar por esporte. Diante dele, sobre a mesa posta, o Inocentinho balava, imbele. Chamava-se Malaquias – tão piquinininho e rechonchudo, pelado, a barriguinha pra baixo, na tocante posição de certos retratos da primeira infância...O Ogre atou o guardanapo ao pescoço. Já ia o miserável devorar o Inocentinho. quando Nossa Senhora interferiu com um milagre. Malaquias criou asas e saiu voando, voando, pelo ar atônito.., saiu voando janela em fora... Dada, porém, a urgência da operação, as asinhas brotaram-lhe apressadamente na bunda, em vez de ser um pouco mais acima, atrás dos ombros. Pois quem nasceu para mártir, nem mesmo a Mãe de Deus lhe vale! Que o digam as nuvens, esses lerdos e desmesurados cágados das alturas, quando, pela noite morta, o Inocentinho passa por entre elas, voando em esquadro, o pobre, de cabeça pra baixo. E o homem que, no dia do ordenado, está jogando os sapatos dos filhos, o vestido da mulher e a conta do vendeiro, esse ouve, no entrechocar das fichas, o desatado pranto do Anjo Malaquias! E a mundana que pinta o seu rosto de ídolo... E o empregadinho em falta que sente as palavras de emergência fugirem-lhe como cabelos de afogado... E o orador que pára em meio de uma frase... E o tenor que dá, de súbito, uma nota em falso... Todos escutam, no seu imenso desamparo, o choro agudo do Anjo Malaquias! E quantas vezes um de nós, ao levar o copo ao lábio, interrompe o gesto e empalidece... - O Anjo! O Anjo Malaquias! - ... E então, pra disfarçar, a gente faz literatura.., e diz aos amigos que foi apenas uma folha morta que se desprendeu... ou que um pneu estourou, longe.., na estrela Aldebaran...

sábado, 18 de outubro de 2008

[56] Tipos psicológicos – Carl Gustav Jung

Um dos grandes nomes da psicologia é sem dúvida alguma o médico neurologista Sigmund Freud, um tcheco que viveu muito tempo em Viena na Áustria. Freud é conhecido por seus conceitos revolucionários sobre o inconsciente, sobre desejos reprimidos, sobre as vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos.

No entanto o objeto deste texto não é Freud, mas outro psicólogo, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que há muito estimula minha curiosidade. Jung é cerca de 20 anos mais novo que Freud, mas foi, no início de sua carreira, seu seguidor, de modo que “bebeu” da teoria de Freud e, segundo alguns, a evoluiu. Eles trocaram dezenas e dezenas de cartas divagando sobre psicologia, psicanálise, psicoterapia...

Um dos resultados da obra de Jung é a divisão dos seres humanos em duas categorias, de acordo com a preferência natural do indivíduo em se relacionar com o mundo: os introvertidos e os extrovertidos.

1- Introversão.
Enfoque dado ao sujeito. A pessoa foca sua atenção no mundo interno de representações e impressões. Encarrega-se da reflexão. Direciona a atenção para seu mundo interno de impressões, emoções, pensamentos. A ação é voltada para o interior, há certa hesitabilidade, o indivíduo pensa antes de agir, tem uma postura reservada, um certo retraimento social, retém emoções, é discreto e tem facilidade de expressão no campo da escrita. Orienta-se por fatores subjetivos.

2- Extroversão.
Enfoque dado ao objeto. A pessoa foca sua atenção no mundo externo de fatos e pessoas. Encarrega-se da iniciativa e da ação prática. Há fluição da energia de dentro para fora. Dá atenção para a ação, é impulsivo (age antes de pensar), comunicativo, de alta sociabilidade e tem facilidade de expressão oral, o que favorece sua adaptação às condições externas.

Segundo Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido ou extrovertido, mas sempre há predominância de um deles.

Ainda dentro de uma dessas duas categorias acima apresentadas, os seres humanos ainda apresentariam significativas diferenças entre si. Então Jung criou as funções psíquicas, quatro pontos cardeias que orientariam o ser humano. Sendo introvertido ou extrovertido, de acordo com sua genética, influências familiares, experiências na vida, uma pessoa ainda se comportaria segundo traços psicológicos combinados: a) sensação, b) intuição, I) pensamento e II) sentimento. As duas primeiras relacionadas a como percebemos o mundo (irracionalmente); e as duas últimas a como julgamos os fatos (racionalmente).

A) Sensação.
É como coletamos as informações através dos órgãos dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato). Pessoas do "tipo sensação" acreditam nos fatos, têm facilidade para lembrar-se deles e dão atenção ao presente. Essas pessoas têm enfoque no real e no concreto, são voltadas para o “aqui - agora” e costumam ser práticas e realistas. Preocupam-se mais em manter as coisas funcionando do que em criar novos caminhos.

B) Intuição.
É o oposto da função sensação. A percepção se dá através do inconsciente e a apreensão do ambiente geralmente acontece por meio de “pressentimentos”, “palpites” ou “inspirações”. A intuição busca os significados, as relações e possibilidades futuras da informação recebida. Pessoas do tipo intuição tendem a ver o todo e não as partes, e, por isso, costumam apresentar dificuldades na percepção de detalhes.

I) Pensamento.
A função Pensamento estabelece a conexão lógica e conceitual entre os fatos percebidos. É a função do conhecimento intelectual e da conclusão lógica. As pessoas do "tipo pensamento" fazem uma análise lógica e racional dos fatos: julgam, classificam e discriminam uma coisa da outra sem maior interesse pelo seu valor afetivo. Procuram se orientar por leis gerais aplicáveis às situações, sem levar em conta a interferência de valores pessoais. Naturalmente voltadas para a razão, procuram ser imparciais em seus julgamentos.

II) Sentimento.
Quem usa o Sentimento julga o valor intrínseco das coisas, tende a valorizar os sentimentos em suas avaliações, avalia as coisas subjetivamente, preocupa-se com a harmonia do ambiente e incentiva movimentos sociais. Utilizam-se de valores pessoais (seus ou de outros) na tomada de decisões, mesmo que essas decisões não tenham lógica do ponto de vista da causalidade. É a "lógica do coração”.

A sensação constata o que realmente está presente, nos dirá que alguma coisa é (existe), corresponde à totalidade das percepções de fatos externos que nos chegam através dos sentidos, tende a não dar crédito às intuições. A intuição aponta as possibilidades do “de onde” e do “para onde” que estão contidas neste presente...” está ligada ao conceito do tempo que eqüivale a um passado e a um futuro - conhecemos o passado, mas o futuro dependerá de um palpite que é a Intuição. O pensamento nos permite conhecer o que significa o presente, dá o nome a uma coisa e agrega-lhe um conceito, não dá muita importância ao sentimento (valores pessoais). O sentimento nos informa o valor das coisas, nos diz se elas nos agradam ou não, constituindo uma avaliação e não uma emoção, expulsa pensamentos que lhe desagradam.

“A sensação diz que alguma coisa é; o pensamento exprime o que ela é; o sentimento expressa-lhe o valor; e a intuição é o que complementa a visão do mundo pois aventa sobre suas possibilidades.” Casado, 1993

Portanto, a partir desses tipos psicológicos é possível situar nossa personalidade. Qual é a sua? Você é um introvertido, intuitivo, pensador? Ou será que tem um enfoque externo, é um extrovertido , que percebe o mundo mais pelos órgãos dos sentidos – o aqui e agora - , e julga sentimentalmente - baseado em seus valores pessoais? Ou...

sábado, 11 de outubro de 2008

[55] Seção Metáfora - Queda das Torres Gêmeas

A queda das Torres Gêmeas (World Trade Center, Nova York) teve início no dia 11 de setembro de 2001, contudo elas continuam a desmoronar ao longo dos últimos 7 anos e não há mostras claras do término do processo. O índice Dow Jones da bolsa financeira da mesma cidade das torres registrou a pior perda semanal dos 112 anos de sua existência: 18%, maior que os 17% registrados em 1933 deflagrado pela crise de 1929 com o crash das bolsas de então. Se a caderneta de poupança brasileira rende meros 6% ao ano, imagine o que é perder 18% em uma semana.

sábado, 4 de outubro de 2008

[54] A palavra da vez é... Sofisticado.

Sofisticado tem sua origem na palavra sofisma, que é um argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má-fé por parte de quem o apresenta...

Na grécia do século V a.C. , os sofistas eram pessoas que saíam às ruas e faziam "malabarismos" com seus argumentos, com seus sofismas, para que a população acreditasse nas inverdades que diziam.

Logo, é necessário muito cuidado na nossa sociedade consumista de hoje onde são nos apresentados a cada dia mais e mais produtos sofisticados.

Se esses produtos realmente tiverem conexão com a origem que acabo de citar é também através deles que estamos nos afastando da verdade.

Aurélio:
Sofisticado. adj. 1. Falsificado, adulterado. 2. Que não é natural; artificial, afetado. 3. Que perdeu caráter ou simplicidade naturais. 4. Aprimorado, aperfeiçoado, de extremo requinte. 5. Diz-se de aparelho ou equipamento de alta tecnologia.
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