sábado, 28 de julho de 2007


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Dinheiro x Inteligência

Falei no texto anterior sobre a (falta de) relação entre dinheiro e felicidade. Neste reflito sobre a relação entre inteligência e dinheiro. Seriam as pessoas inteligentes mais ricas?

Mais uma vez me baseio em um estudo norte-americano, desta vez de Jay Zagorsky, pesquisador da Universidade Estadual de Ohio.

A amostra da pesquisa é de 7.403 Americanos acompanhados de 1979 a 2004, o que é significativo. Eles eram recorrentemente perguntados sobre os seus salários, seus patrimônios, se haviam estourado o limite do cartão de crédito, se haviam atrasado o pagamento de alguma conta e se já tinham declarado falência alguma vez.

Em relação ao patrimônio total e a probabilidade de eles se encontrarem em dificuldades financeiras, tanto pessoas com QI (Quociente de inteligência medido por um teste escrito) abaixo da média quanto os com QI mediano se mostraram tão bem (ou tão mal) quanto os super-inteligentes. No entanto o estudo mostrou que as pessoas mais inteligentes tinham uma tendência a receber melhores salários.

Portanto a pesquisa não mostrou nenhuma relação entre inteligência e riqueza. Mas como pode pessoas super-inteligentes terem, em média, um salário melhor que as outras pessoas e ainda assim não possuir maior riqueza que eles? A resposta parece estar na baixa capacidade de poupança. Os super-inteligentes poupariam menos, provavelmente porque usufruiriam de um padrão de vida um pouco mais elevado.

A riqueza de uma pessoa é medida pelo patrimônio e não pelo padrão de vida. As que poupam mais possuem uma maior probabilidade de acumular dinheiro e formar um patrimônio. Como as pessoas muito inteligentes não poupam tanto quanto as outras, mesmo ganhando mais eles não se tornam ricos. É lógico que esse estudo reflete uma média, certamente foram também encontrados pessoas inteligentes e com patrimônio elevado, mas em um baixo número.


Zagorsky sugere que uma das indicações de que inteligência e riqueza não necessariamente possuem uma conexão é o estacionamento das universidades. “Professores geralmente são muito inteligentes, mas se você olhar os estacionamentos das universidades, não verá muitos Rolls Royces, Porsches ou outros carros caros. Ao contrário, verá muitos carros velhos e de baixo valor”.


A conclusão da pesquisa, portanto, é que inteligência não é um fator para explicar a riqueza. Aqueles com baixa inteligência não deveriam acreditar que não teriam condições de conquistar um elevado patrimônio, e, da mesma forma, aqueles com inteligência elevada não deveriam acreditar que têm uma vantagem.

sábado, 21 de julho de 2007

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Dinheiro x Felicidade

Recentes estudos empíricos, que pela natureza da pesquisa não permitem conclusões exatas e científicas, tentam traçar a relação entre dinheiro e felicidade. Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais feliz ela é? Essa é a principal pergunta que esses estudos tentam responder.

São apresentados, para desvendar a questão, dois fenômenos que nos acometem. Um é o chamado efeito adaptação e o outro o efeito comparação.

O efeito adaptação destaca a capacidade do ser humano em se acostumar com tudo. Assim, seja qual for a nossa conquista, seja ela material ou não, passado um tempo ela não nos proporcionará mais nem um décimo da felicidade que nos proporcionava no início. Acostumamo-nos rapidamente com uma nova aquisição e em um curto período de tempo passamos, muitas vezes, a nem dar mais importância ao novo objeto adquirido, à nova conquista. Esse fenômeno abre espaço para que passemos a “necessitar” ou desejar algo mais, e isso acontece sucessivamente ao longo da nossa vida. Dessa forma, estaríamos sempre insatisfeitos, sempre desejando algo que ainda não temos, sempre com a sensação de que temos menos dinheiro do que precisamos, sempre achando que seremos felizes quando...

O efeito comparação é um outro fenômeno que nos atinge, é o fato de estarmos sempre nos comparando com os outros. O pior, nesse caso, é que estamos sempre nos comparando com os que têm algo mais que nós, quase nunca nos comparamos com quem tem menos. Isso provoca uma sensação de que ainda não temos o suficiente, de que temos que nos esforçar e ganhar mais. A comparação nunca é feita com o Pelé, com o artista que se destaca há anos na TV, com aquele milionário americano; a comparação é sempre feita com aqueles com os quais convivemos, com pessoas que estudaram conosco, que trabalham conosco, enfim, com pessoas conhecidas, não tão distantes, com quase a mesma capacidade que nós, mas sempre com pessoas que estão materialmente melhores que nós. A questão é: eu consigo consumir/adquirir/fazer o mesmo que essas pessoas consomem/adquirem/fazem?

Apresentados esses dois fenômenos podemos voltar à pergunta inicial, quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais feliz ela é? Parece evidente que não. Sempre nos acostumaremos com o que quer que seja que adquiramos e sempre, sempre, sempre e eternamente quereremos mais. Superestimamos a felicidade que alcançaríamos se possuíssemos mais dinheiro. Além disso, sempre haverá alguém que tem mais do que nós, com o qual nos compararemos adquirindo a sensação de que ainda não temos o suficiente. Um “ainda” que nos acompanhará até a morte.

Mas não sejamos hipócritas em dizer que o dinheiro não ajuda na conquista da felicidade. É necessário um mínimo para comer bem, para morar bem, para se ter segurança, para transporte e algumas viagens, para que a saúde possa ser cuidada, para que seja possível um crescimento educacional e cultural, para que seja facilitada a convivência com amigos e familiares.

E há solução para que não soframos com os fenômenos apresentados, para que não fiquemos obcecados em adquirir cada vez mais, para que sejamos felizes? Quanto à adaptação temos que ter consciência de que não será o dinheiro, objetos, que nos trará uma felicidade duradoura. Quanto à comparação, talvez se, ao invés de nos compararmos com os outros, nos compararmos com nós mesmos ao longo de nossa vida, isso possa trazer algum alívio. Como éramos 20 anos atrás? E 10 anos atrás? E agora? Se não estamos evoluindo deveremos corrigir a rota, somos, nós próprios, nossos melhores parâmetros. Por quê não nos comparar também com o universo dos que têm menos, que muitas vezes são em muito maior número? Quantas pessoas não têm sequer esgoto e água encanada em casa? Quantas pessoas estão desempregadas? Talvez isso nos sensibilize para que possamos parar de reclamar e fazer algo pelo próximo.

Ser feliz pode ser muito mais um estado mental, uma evolução espiritual, do que ter mais ou menos dinheiro.

Esse texto é baseado, dentre outros, no artigo “Does money buy you more happiness?” de Manel Baucells e Rakesh K. Sarin.

sábado, 14 de julho de 2007

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Muito prazer, Otário!
Sergio Eduardo de Oliveira - acadêmico de Jornalismo - Folha de Blumenau

Muito prazer, meu nome é Otário. Sou eu quem escolhe quem vai roubar meu dinheiro, sou eu quem elege quem vai levar meus quatro primeiros salários do ano. Sou eu quem esquece o que aconteceu no ano passado, sou eu quem não valoriza os ídolos do País. Sou eu quem fala mal do País e tem que idolatrar os falsos estadistas.

Sou eu quem puxa a carroça, enquanto os chefes de Estado sobem nela. Sou eu, o Otário, quem adora uma causa perdida, quem adora pedir Justiça, quando na verdade sabe que nada vai acontecer.

Sou eu quem aplaude os nobres colegas quando se reelegem nas eleições, mas esquece que eles não fizeram nada por mim durante quatro anos. Mas, de novo, muito prazer, sou eu o Otário.

O mesmo que sabe que tem direitos escritos na Constituição do País, mas que acha que tudo é assim mesmo e não faz nada para mudar. Este Otário que vos fala é o mesmo que dá mais valor para aquela que trabalha deitada e descansa em pé, como disse o Clodovil.

Sou eu, o Otário, que aceita a proposta da “ministra” Marta Suplici, relaxa e goza, quando uma viagem de avião leva mais tempo que uma viagem de carro. Que tem certeza que o presidente do Senado está mentindo, mas mesmo assim lhe dá o direito de sair ileso de bolso cheio de uma irregularidade.

Sou eu, o Otário de sempre, que pinta a cara e vai para as ruas protestar só porque viu na TV que todo mundo está fazendo a mesma coisa. Sou eu quem prefere ficar vendo Faustão, Gugu e outros programas do gênero ao invés de comprar um livro ou um jornal para ler.

Eu sou aquele Otário que, em tempos de Copa do Mundo, vibra, torce, compra camisa e bandeira só pra torcer pela seleção enquanto os nossos “representantes” aproveitam para aumentar salários, empregar parentes, desviar dinheiro público e viajar com o meu dinheiro pra ver em loco a mesma Copa do Mundo que eu vejo pela TV.

Como diz a música do Engenheiros do Hawaii, “se fosse fácil achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim”. Na verdade, é mais fácil fazer como todo mundo faz, o caminho mais curto é o produto que rende mais, um tiro certeiro é o modelo que vende mais.

Mas não tem nada não, esse Otário tem o horário eleitoral pra se divertir, tem o Big Brother pra votar e o Carnaval pra esquecer que no dia seguinte não terá comida, diversão e arte, além de emprego, saúde e educação.

Mas esse sou eu. Muito prazer! O Otário.
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