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Recordar é viver. Abaixo disponibilizo um texto escrito a um tempo atrás.
***
Tragédia no Rio de Janeiro
Meus caros, tenho que dizer que já esperava por algo parecido. Afinal, mesmo antes de chegar aqui no Rio de Janeiro já tinha em mente a imagem da cidade violenta que plantam em nossas mentes via telejornais, novelas, revistas e inúmeros outros meios.
Assim, quase que já previa que um dia, ao sair de casa, ao chegar ao trabalho, ao sair para o almoço, ao caminhar no fim de semana, ao deixar a casa para ir ao cinema, ou ao estar em qualquer ponto fora de casa poderia ver algo que desde que cheguei aqui ainda não houvera visto.
O temor estava entranhado não só na mente, mas no corpo, no espírito, no ar que respiramos. Então me preparava. Quase que sabia que o dia iria chegar e que eu tinha que estar preparado para isso. Até então nenhum amigo sofrera ou vira nada, e mesmo nenhum conhecido, nenhum companheiro de trabalho.
O tempo foi passando, foi passando, e nada acontecia. O que estava errado? Comecei até a ficar displicente, a sair à noite sem tomar determinados cuidados, a ir até locais que poderiam não ser tão recomendados, a andar de ônibus que vez ou outra eram alvos de roubos. Enfim, passei a achar que aquela imagem era falsa. Cadê aquele Rio da televisão? É verdade que não era tão tranqüila quanto qualquer cidade do interior, mas também não tinha índices de violência superior a nenhuma capital de estado.
E os meses foram se passando, se passando, até que ontem, até que ontem...
Estava eu caminhando pelo calçadão em um final de tarde de inverno, que mais parecia de verão, com pensamentos que viajavam pra longe, que iam e vinham. Que eram às vezes nobres, às vezes pueris. Pensamentos que revisitavam o passado e que tentavam espiar o futuro, quando tiveram que irremediavelmente pousar no presente.
Um estalo, um barulho atemorizante, um estampido oco atravessou o ar. Subitamente a garota da bicicleta diminuiu a velocidade, o gari que limpava a areia da praia abaixado se levantou, o vendedor de coco do quiosque virou a cara, o corredor maratonista parou, a senhora de vestido longo arregalou seus olhos e talvez só a estátua de bronze do poeta mineiro Carlos Drumond de Andrade, que jaz serena sentada no banco num ponto da calçada, não tenha mudado de expressão.
Parecia que o tempo havia parado, que todos os outros sons haviam cessado para dar lugar a segundos de incompreensão, segundos de expectativa, segundos de indagação.
O ônibus passou para desobstruir a visão, e atrás dele lá estava a prova do acontecido.
Lá estava ela, a garrafa de plástico, de refrigerante, vazia, que algum desconhecido desavisado usara e abandonara, não sem antes tampá-la prendendo dentro muito ar. Quando o grande veiculo basculante passou sobre ela, a coitada soltou um grito de despedida que provocou um suspense no bairro, cenário da vida cotidiana.
O barulho dos carros, das motocicletas e dos ônibus voltou. A garota da bicicleta acelerou, o gari que limpava a areia da praia continuou catando lixo, o vendedor de coco do quiosque vendeu mais um, o corredor maratonista retornou à corrida, a senhora de vestido longo retomou com os olhos na posição normal e só o poeta Drumond passou incólume por tudo e continuou inabalável.
***
Em tempos de Pan-2007 no Rio de Janeiro, tanto os turistas quanto a própria população pôde sentir como seria a vida nesta cidade sem essa “tragédia psicológica”. Boa parte dos policiais permanecerão aqui, a economia parece crescer em um ritmo mais forte, o poder público manifesta interesse em se fazer presente nos morros e periferias, o Cristo foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno, o que atrairá mais turistas e negócios. Quem sabe esse ano não seja um divisor de águas.
Recordar é viver. Abaixo disponibilizo um texto escrito a um tempo atrás.
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Tragédia no Rio de Janeiro
Meus caros, tenho que dizer que já esperava por algo parecido. Afinal, mesmo antes de chegar aqui no Rio de Janeiro já tinha em mente a imagem da cidade violenta que plantam em nossas mentes via telejornais, novelas, revistas e inúmeros outros meios.
Assim, quase que já previa que um dia, ao sair de casa, ao chegar ao trabalho, ao sair para o almoço, ao caminhar no fim de semana, ao deixar a casa para ir ao cinema, ou ao estar em qualquer ponto fora de casa poderia ver algo que desde que cheguei aqui ainda não houvera visto.
O temor estava entranhado não só na mente, mas no corpo, no espírito, no ar que respiramos. Então me preparava. Quase que sabia que o dia iria chegar e que eu tinha que estar preparado para isso. Até então nenhum amigo sofrera ou vira nada, e mesmo nenhum conhecido, nenhum companheiro de trabalho.
O tempo foi passando, foi passando, e nada acontecia. O que estava errado? Comecei até a ficar displicente, a sair à noite sem tomar determinados cuidados, a ir até locais que poderiam não ser tão recomendados, a andar de ônibus que vez ou outra eram alvos de roubos. Enfim, passei a achar que aquela imagem era falsa. Cadê aquele Rio da televisão? É verdade que não era tão tranqüila quanto qualquer cidade do interior, mas também não tinha índices de violência superior a nenhuma capital de estado.
E os meses foram se passando, se passando, até que ontem, até que ontem...
Estava eu caminhando pelo calçadão em um final de tarde de inverno, que mais parecia de verão, com pensamentos que viajavam pra longe, que iam e vinham. Que eram às vezes nobres, às vezes pueris. Pensamentos que revisitavam o passado e que tentavam espiar o futuro, quando tiveram que irremediavelmente pousar no presente.
Um estalo, um barulho atemorizante, um estampido oco atravessou o ar. Subitamente a garota da bicicleta diminuiu a velocidade, o gari que limpava a areia da praia abaixado se levantou, o vendedor de coco do quiosque virou a cara, o corredor maratonista parou, a senhora de vestido longo arregalou seus olhos e talvez só a estátua de bronze do poeta mineiro Carlos Drumond de Andrade, que jaz serena sentada no banco num ponto da calçada, não tenha mudado de expressão.
Parecia que o tempo havia parado, que todos os outros sons haviam cessado para dar lugar a segundos de incompreensão, segundos de expectativa, segundos de indagação.
O ônibus passou para desobstruir a visão, e atrás dele lá estava a prova do acontecido.
Lá estava ela, a garrafa de plástico, de refrigerante, vazia, que algum desconhecido desavisado usara e abandonara, não sem antes tampá-la prendendo dentro muito ar. Quando o grande veiculo basculante passou sobre ela, a coitada soltou um grito de despedida que provocou um suspense no bairro, cenário da vida cotidiana.
O barulho dos carros, das motocicletas e dos ônibus voltou. A garota da bicicleta acelerou, o gari que limpava a areia da praia continuou catando lixo, o vendedor de coco do quiosque vendeu mais um, o corredor maratonista retornou à corrida, a senhora de vestido longo retomou com os olhos na posição normal e só o poeta Drumond passou incólume por tudo e continuou inabalável.
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Em tempos de Pan-2007 no Rio de Janeiro, tanto os turistas quanto a própria população pôde sentir como seria a vida nesta cidade sem essa “tragédia psicológica”. Boa parte dos policiais permanecerão aqui, a economia parece crescer em um ritmo mais forte, o poder público manifesta interesse em se fazer presente nos morros e periferias, o Cristo foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno, o que atrairá mais turistas e negócios. Quem sabe esse ano não seja um divisor de águas.
4 Comentários:
Cruzo os dedos junto com você na esperança de que o Rio de Janeiro esteja sempre nas capas dos jornais e revistas e nas telas anunciando não a morte e a violência, mas as suas belas que são incontáveis.
Durante o Pan lembramos de você. Depois, queremos ouvir as histórias...
Este seu texto é muito bom! (eu já disse isto antes).
Abraços,
Cruzo os dedos junto com você na esperança de que o Rio de Janeiro esteja sempre nas capas dos jornais e revistas e nas telas anunciando não a morte e a violência, mas as suas belas que são incontáveis.
Durante o Pan lembramos de você. Depois, queremos ouvir as histórias...
Este seu texto é muito bom! (eu já disse isto antes).
Abraços,
Adoreiii!!!! Realmente é isso q acontece infelizmente. Eu mesmo qndo fui praí quase morri de tanto pânico q tinha , praticamente não aproveitei nada, foi só qndo cheguei aqui q vendo pela televisão os lugares q tinha ido q foi cair a ficha e pensei:É realmente o Rio é lindddoooooo!!! Mais a mente poluída dessas informações q nos deixam aterrorizados q não me deixou aproveitar e ver a beleza do Rio de Janeiro. Espero q isto mude, e q pessoas como eu, medrosas, nervosas e estressadas pelo terror q via e escutava possa começar a ver o mundo diferente não só cheio de tragédias , mas sim de esperança e luta para um Rio de Janeiro mais bonito e um mundo melhor!. abraços
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